Ao longo de nosso trabalho com mais de 26 mil equipes ao redor do mundo, identificamos cinco fatores essenciais que influenciam diretamente a eficácia de um time. Nesta primeira parte de uma série sobre o tema, vamos explorar como a mentalidade da equipe pode impulsionar seus resultados.
Em uma coletiva de imprensa após o jogo, o técnico do time de futebol americano da Universidade do Colorado, Deion Sanders, deixou claro seu descontentamento com o desempenho da equipe, apesar da vitória por 27 a 24 contra o Arizona State Sun Devils.
“Jogaram muito mal”, disparou Sanders.
A crítica não foi sobre o resultado em si, mas sobre a forma como a vitória foi conquistada. O Colorado começou mal, sofreu oito penalidades e permitiu cinco sacks. A equipe só garantiu o triunfo graças a uma jogada decisiva do quarterback Shedeur Sanders (filho de Deion) e a um chute de 43 jardas a 12 segundos do fim. Apesar do desfecho emocionante — ótimo para a televisão —, o jogo foi marcado por falhas e um desempenho inconsistente. E para Sanders, isso está longe de ser aceitável.
Sanders, conhecido desde os tempos de jogador pelo apelido “Prime Time”, sempre representou excelência e confiança. Brilhou tanto na NFL, onde foi campeão do Super Bowl com os 49ers e os Cowboys, quanto na MLB, jogando em duas equipes que chegaram à World Series. Com carisma e talento de sobra, sempre se destacou nos maiores palcos do esporte.
Hoje, como “Coach Prime”, ele leva essa mesma postura para sua atuação como treinador. Quando assumiu o Colorado, o time vinha de uma temporada desastrosa, com apenas uma vitória em 12 jogos. Logo no primeiro encontro com os jogadores, ele sinalizou uma mudança de filosofia e uma nova mentalidade para a equipe. Repetiu várias vezes: “Estou chegando” — uma promessa de transformação. “Chega de mediocridade. Ponto final”, afirmou.
Treinadores como Sanders têm uma visão clara do que querem alcançar — e sabem inspirar suas equipes a acreditar no mesmo. O mesmo vale para grandes líderes em qualquer contexto.
Mentalidade: o ponto de partida
Seja no esporte, nos negócios ou em qualquer outro ambiente, quem lidera define o tom e a cultura da equipe. Cabe ao líder comunicar com clareza o propósito do grupo e cultivar a convicção de que os objetivos são alcançáveis. As equipes mais eficazes compartilham uma identidade e um propósito comum. Em outras palavras: a mentalidade da equipe começa com você.
Para os Buffaloes, a nova mentalidade foi definida logo na chegada de Sanders: mediocridade não será mais tolerada. Por isso a frustração após o jogo contra o Arizona State — não pelo placar, mas por não terem jogado de acordo com o novo padrão de excelência.
Como fortalecer a mentalidade da equipe
Neste momento, o Colorado vive o que gosto de chamar de “meio confuso” — já compreendem a visão de se tornarem uma equipe forte, disciplinada e bem preparada, mas ainda estão aprendendo a executá-la na prática. Para avançar, três elementos podem fortalecer essa mentalidade, e três outros devem ser evitados para que a equipe não se fragilize:
Fatores que fortalecem a mentalidade da equipe
-
- Unidade em torno de um propósito: quando todos estão alinhados com a missão e visão do grupo, surge uma identidade coletiva que impulsiona o engajamento, a criatividade e a colaboração.
- Crença na eficácia da equipe: acreditar que o grupo é capaz de alcançar seus objetivos aumenta a motivação e o esforço de cada integrante.
- Visão sistêmica: entender a equipe como parte de um sistema maior permite alinhar metas e processos de maneira integrada.
Fatores que enfraquecem a mentalidade da equipe
-
- Mentalidade de silo: quando cada um se preocupa apenas com sua parte, perde-se o espírito de colaboração e as oportunidades de trabalho conjunto.
- Negatividade: atitudes pessimistas drenam energia, comprometem o entusiasmo e reduzem a produtividade.
- Cultura de culpa: erros são inevitáveis, mas quando o foco está em encontrar culpados em vez de aprender com os desafios, a equipe perde a chance de evoluir.
Uma equipe de sucesso
Apesar da atuação aquém das expectativas naquele jogo, é inegável que o Colorado evoluiu muito desde o ano anterior. Com um histórico de 4 vitórias e 2 derrotas até a metade da temporada, a equipe está próxima de garantir vaga em um bowl — algo impensável meses atrás. A transformação prometida por “Coach Prime” está, sim, acontecendo.
No fim das contas, a história de Sanders à frente dos Buffaloes vai além do esporte universitário. Trata-se de liderança, mudança de cultura e do poder que a mentalidade tem para transformar resultados. Grandes treinadores e grandes líderes compartilham esse entendimento: é a mentalidade da equipe que separa o potencial da realização.